sábado, 22 de novembro de 2014

Mediunidades Sensoriais - Médiuns Videntes



A mediunidade vidente é evidentemente uma das mais curiosas manifestações dos Espíritos. Não há melhor prova da sobrevivência que aquela que permite a um Espírito tomar-se visível. Para chegar a este resultado deve-o fazer no encamado certas modificações perispirituais, que é preciso estudar. Distingamos os dois casos seguintes:
1 - O médium vê com os olhos;
2 - O médium vê em estado de desprendimento.
Existe um meio simples, por onde um médium pode saber em que estado se encontra. Ao ver um Espírito, se desvia o olhar ou fecha os olhos, e a aparição continua visível; é que ele está desprendido; se, pelo contrário, não percebe mais o Espírito, é que vê com os olhos do corpo.
No desprendimento, a visão se opera fora dos órgãos dos sentidos, e disso não nos ocuparemos por saber que os desencarnados vêem, ouvem, e, de maneira geral, perce­bem por todas as partes do perispírito. A vista pela alma, em estado de desprendimento, entra, pois, no caso geral da visão dos Espíritos entre si.
O que convém notar é que o Espírito é, entretanto, obrigado a agir sobre o médium, para conseguir-lhe o des­prendimento. Que é, pois, o desprender-se? Para a alma é estar menos acorrentada ao corpo. Sabemos que, durante sua passagem na Terra, o Espírito está ligado ao invólucro material pelo perispírito, que, ele próprio, aciona o sistema nervoso. Quanto mais ativa é a vida do encarnado, mais abundante é a circulação nervosa e menos pode o Espírito desprender-se; mas se, como vimos na teoria do magne­tismo, é possível paralisar, momentaneamente, os laços que prendem a alma ao corpo, produz-se uma irradiação do Espírito encarnado, que, nessa condição, goza de quase todas as faculdades que possui na erraticidade.
Ele pode, pois, ver os Espíritos, descrevê-los, dar, assim, provas de sua existência.
Este estado particular se nos apresenta frequentemen­te no sono. Os sonhos são, a maior parte das vezes, lem­branças que conservamos de nossas viagens no Espaço; ainda que, ao despertar, não nos recordemos dos fatos de que fomos testemunhas durante a noite, não se deve concluir que a alma não se tenha desprendido. Deixaremos de parte esse aspecto da questão, para nos ocuparmos, especialmente, das manifestações visuais, em estado de vigília, e pelos órgãos do médium.
Em primeiro lugar, definamos de maneira precisa, o que entendemos por mediunidade vidente, porque é bom não tomarmos por aparições as figuras diáfanas que se percebem na semi-sonolência e ao despertar. É preciso cuidado contra as causas de erro que provêm da imaginação superexcitada. Quem já não acreditou distinguir, em dados momentos, figuras, paisagens, nos desenhos bizarros formados pelas nuvens? E a razão nos diz que elas não exis­tem, em realidade. Sabe-se, também, que na obscuridade os objetos revestem aparências extraordinárias. Quantas vezes, num quarto, à noite, uma veste pendurada, um vago reflexo luminoso não parecem ter uma forma humana aos olhos dos de maior sangue frio? Se a isso se vem juntar o medo ou uma credulidade exagerada, a imaginação faz o resto. Compreenderemos, assim, o que se chama à ilusão, mas não teremos nenhum esclarecimento sobre a alucinação.

Eis-nos chegado à grande palavra empregada, a todo propósito, pelos materialistas, para explicar a mediunidade vidente. Procuremos precisar os caracteres especiais da alucinação e vejamos se têm algo de comum com a me­diunidade.

Vista medianímica pelos olhos


Tendo eliminado a visão da alma pelo desprendimen­to, devemos estudar agora a visão pelos órgãos da vista.
Quando um médium vê um Espírito, pode-se, a priori, estabelecer a seguinte questão. É o médium que experi­menta uma modificação ou o Espírito? Com efeito, no estado ordinário, não vemos os Espíritos, porque nossos órgãos são muito grosseiros para nos fazer perceber certas vibrações que lhes escapam. Mas quando se realiza a visão, ou nossos órgãos adquiriram maior sensibilidade ou o Espí­rito fez com que seu invólucro experimentasse certas modi­ficações que, diminuindo a rapidez das vibrações mole­culares perispirituais, pudesse torná-lo visível.
Se este último modo de encarar o fenômeno fosse exato, o Espírito seria visto por todas as pessoas presentes: é o que se dá, no caso das materializações, que já estuda­mos com Crookes; mas, quando numa assembléia, só uma pessoa vê os Espíritos, é que esta experimenta uma varia­ção orgânica do sentido da vista, que é interessante es­tudar.
O olho, como se sabe, é uma verdadeira câmara es­cura, no fundo da qual se desenham as impressões lumino­sas. A retina, formada pela expansão do nervo ótico, trans­porta ao cérebro as vibrações luminosas; aí elas se transfor­mam em sensações. Os fisiologistas não se limitaram a estudar a participação da retina na função visual, remon­tando dos efeitos às causas, mas procuraram a explicação desses fatos.
Para explicar a sensação da cor, a do claro, a do escuro, eles admitiram velocidades diferentes nas ondas de um fluido (éter), que estivesse espalhado em todo o Universo. Essas ondas impressionariam a retina, de manei­ra diferente, e a natureza da percepção de que a alma tem consciência, seria subordinada a essas impressões va­riáveis. Por esta teoria, admite-se que os fenômenos de visão sejam, simplesmente, o resultado da percepção, pelo sensórium, de um estado determinado da retina, e a sensa­ção da obscuridade é explicada pela ausência de qualquer sensação, e pelo estado da própria retina.
O que prova, aliás, a existência de uma modificação superveniente na retina, durante a percepção dos objetos luminosos, é a possibilidade de reproduzir as mesmas sen­sações por outro excitante, que não a luz. Toda causa capaz de determinar uma alteração no estado da membrana nervosa do olho determina sensações íntimas, ou por outra, subjetivas de luz. Comprimindo-se o olho com o dedo, percebem-se figuras de formas diversas: ora anulares, ora radiadas.
Acontece, por vezes, que estas sensações subjetivas se produzem espontaneamente. Diz Muller ter verificado, em certos casos, a aparição de uma pequena mancha bran­ca, que se produzia ao mesmo tempo que os movimentos respiratórios; virando-se bruscamente os olhos para o lado, vêem-se aparecer, de repente, círculos luminosos, no cam­po visual mergulhado na obscuridade.
Admitidas as sensações de luz, como o resultado de uma alteração sobrevinda na retina, indagaram alguns fisio­logistas onde esse estado era percebido pela alma. É evi­dentemente no encéfalo e não na retina. O que põe fora de dúvida a participação da retina no ato da visão é que os animais de vista mais penetrante são os que têm a retina mais desenvolvida. Sendo esta membrana a extremi­dade expandida do nervo ótico, e não apresentando uma sensibilidade igual em toda a sua superfície, as fibras que compõem o nervo ótico não vibram todas em uníssono. As mais sensíveis poderão ser impressionadas por ondas luminosas, que deixarão as outras em repouso. Tal fato é a conseqüência da especificação dos órgãos, ou seja da tendência que possuem as fibras para se acomodarem a um estado vibratório determinado.
A sensibilidade de um órgão depende do maior ou menor número de fibras que ele contém, sendo cada uma capaz de tomar um movimento vibratório particular, em relação com as causas externas que podem influenciar esse órgão.
Não esqueçamos que uma condição é indispensável ao bom funcionamento dos aparelhos sensoriais, a de que cada órgão tenha uma quantidade determinada de fluido nervoso à sua disposição; as sensações serão agudas ou nulas, conforme aquela quantidade aumenta ou diminui. Temos numerosos exemplos. Em certos estados patológicos o ouvido atinge uma agudeza notável; esse desenvolvi­mento é devido à acumulação momentânea do fluido nervo­so no nervo acústico; o mesmo acontece com os outros sentidos.
Isto posto, vejamos, pelo estudo da luz, entre que limites de vibrações se pode exercer, no estado normal, o sentido da vista.
Suponhamos que fazemos passar, através de um pris­ma, um raio de sol; se recolhermos sobre um ecran este raio refratado, notaremos que ele forma uma faixa lumino­sa, composta de sete cores, que se chamou de espectro solar. Os coloridos extremos são o vermelho e o violeta; além dessas duas cores o olho não percebe mais sensações luminosas. Entretanto, colocando-se sais de prata nessa parte obscura, eles são decompostos, o que prova que, além do violeta, existem radiações particulares que o olho não é capaz de apanhar, às quais o termômetro é insensível, mas cuja atividade química é. poderosa. Além do vermelho, existem ondulações caloríficas invisíveis.
Chegamos, assim, a esta conclusão necessária, a de que o espectro completo formado pelas radiações solares se prolonga além do violeta e do vermelho, e que é só a parte média do especto total que nossos olhos podem distinguir.
Existe, pois, luz que não vemos, há vibrações lumino­sas inapreciáveis à vista, porque a retina, que é o aparelho receptor, não pode registrar as vibrações luminosas muito rápidas para ela. Cálculos recentes mostraram que as ondu­lações etéreas, de menos de 400 trilhões por segundo, ou mais de 790, são impotentes para impressioná-la. O mesmo para com o ouvido e com os outros sentidos, de sorte que o homem é uma máquina animal dotada de aparelhos receptores, que funcionam entre fraquíssimos limites, comparados à infinidade da natureza.
Esta idéia é capital para a compreensão dos fenômenos espíritas. Só percebemos a matéria pela vista, quando suas vibrações não ultrapassam 700 trilhões por segundo, mas, como vimos, há ondulações mais rápidas e que nos esca­pam. Ora, os fluidos perispirituais são matéria em estado de rarefação extrema; possuem um movimento vibratório muito rápido, de sorte que, em estado normal, nosso olho não pode ver os Espíritos. Mas, se pudéssemos diminuir o número das vibrações perispirituais, se conseguíssemos trazê-las aos limites compreendidos na visão, veríamos os Espíritos. Este resultado pode ser atingido de duas maneiras: 1:, diminuindo o número das ondulações lumino­sas; 2:, aumentando o poder visual dos olhos.
É possível diminuir o movimento vibratório de um raio de luz? Não hesitamos em afirmá-lo, porque notáveis experiências feitas ultimamente vieram tornar essa verdade indubitável.
Os raios luminosos ultravioleta, do espectro, invisí­veis até então, tornam-se visíveis quando os deixam cair numa espécie particular de vidro, contendo um silicato de um metal denominado urânio. Esse vidro tem a proprie­dade de tornar visíveis os raios que, sem ele, não nos impressionariam os olhos. Se tomarmos um pedaço desse vidro e o iluminarmos, sucessivamente, à luz elétrica, à de uma vela, à de uma lâmpada de gás, e se o colocarmos no campo de um espectro prismático de luz branca, vê-lo­-emos brilhar conforme a cor da luz que lhe cair em cima. Se o iluminarmos com raios ultravioleta, notá-lo-emos com uma cor misteriosa, que revela a presença de raios até agora invisíveis aos olhos mortais.
Examinemos o caso em que a potência do olho pode ser aumentada; esta operação terá ainda, por fim, fazer ver os Espíritos. A alma, dissemo-lo muitas vezes, é uma essência indivisível, imaterial e intangível, que constitui a personalidade de cada indivíduo; ela é cercada de matéria quintessenciada, que lhe forma o invólucro e pela qual entra em relação com a natureza exterior. Esse corpo fluídi­co, em virtude de sua rarefação, possui um movimento molecular mais rápido que o dos gases e dos vapores, que já são invisíveis para nós. Logo, também ele não será visível, porque os olhos não têm, no estado normal, fibra que possa vibrar harmonicamente com ele.
Se um Espírito, porém, quer manifestar sua presença, entra em relação fluídica com o encarnado, assim como vimos precedentemente, e, estabelecida a comunicação, acumula pelo magnetismo espiritual, no nervo ótico, uma quantidade de fluido nervoso maior que de ordinário; certas fibras se sensibilizam e podem, desde logo, entrar em vibração correspondente à do invólucro do Espírito. Desde que se produz esse fenômeno, o ser, assim modificado, vê o Espírito e o verá enquanto a ação continuar.
Pouco a pouco, esta operação se vai renovando, gran­de número de vezes; as fibras adquirem maior aptidão vibratória, as ondas luminosas se propagam no organismo, seguindo a linha a que Hérbert Spencer deu o nome de linha de menor resistência, de sorte que a onda caminha, cada vez com mais facilidade, ao longo dessa linha, e, por fim, ela, mesmo, acaba por tomar naturalmente esse movimento vibratório, desde que a primeira molécula é agitada. O médium, na realidade, tem um sentido novo, devido à extensão do aparelho visual.
Nós o sabemos, quando o Espírito se quer tornar visível a muitas pessoas, é sempre obrigado a tomar ao médium fluido nervoso, mas a modificação se opera nele e não mais nos olhos dos assistentes. Vimos que a simples alteração no movimento molecular de um corpo, pode fazê­-lo passar do estado transparente à opacidade. Da mesma forma, um vapor que se condensa, isto é, cujo movimento vibratório diminui, torna-se muito rapidamente visível, sob a forma de nevoeiro; enfim, que o vidro de urânio permite ver os raios do espectro, os quais, sem ele, seriam invi­síveis.
O Espírito pode, portanto, agir de maneira análoga. Esse fenômeno pinta-nos fielmente o que se passa no caso da fotografia dos Espíritos. Estudemos esse novo gênero de manifestação.

Quinta Parte - Capítulo III
O Espiritismo Perante a Ciência
Gabriel Delanne



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