segunda-feira, 6 de abril de 2015

Provas da Imortalidade da Alma Pela Experiência

 À pergunta - existe a alma? - a ciência responde talvez, os fenômenos do magnetismo, do hipnotismo e da anestesia dizem que sim, e nisso confirmam todas as deduções da filosofia e as afirmações da consciência.
Constrangidos, pela evidência dos fatos, a admitir uma força diretriz no homem, grande número de materia­listas se refugiam em uma última negativa, sustentando que essa energia se extingue com o corpo, de que ela não era senão uma emanação. Como todas as forças físicas e químicas, dizem eles, a alma, essa resultante vital, cessa com a causa que a produz; morto o homem, está aniquilada a alma.
Será possível? Não seremos mais que um simples con­glomerado vulgar de moléculas sem solidariedade umas com as outras? Deve desaparecer para sempre nossa individualidade cheia de amor e, do que foi um homem, não restará verdadeiramente senão um cadáver destinado a desagregar-se, lentamente, na fria noite do túmulo?
Ante a grandiosa questão da imortalidade do ser pen­sante, diante desse temível problema que tem apaixonado as maiores inteligências, em face desse ignoto, cheio de mistério, não hesitamos em responder de maneira afir­mativa.
Temos provas seguras da existência da alma após a morte; podemos estabelecer irrefutavelmente que estamos com a verdade e isto, com o auxílio de experiências sim­ples, práticas, ao alcance de todos, e para cuja explicação não se faz mister um gênio transcendente. O ignorante pode, como o sábio, ter uma convicção, e esse resultado é devido a uma ciência nova - o Espiritismo.
Quando se pensa na gravidade ligada à solução do problema da sobrevivência do eu e nas conseqüências que daí resultam, não se poderia achar demasiado insistir nos fenômenos que nos mostram, de forma probante, a existência da alma depois da morte. A vida social, as leis que a dirigem são baseadas num ideal moral que só se pode apoiar na crença em Deus e numa vida futura.
Há longos séculos, com efeito, os povos, confiando nos princípios de suas religiões, que lhes pareciam inabalá­veis, aceitaram as leis ditadas por seus legisladores. Mas, com os tempos modernos, com a discussão livre, levanta­ram-se dúvidas sobre a legitimidade dessas leis; o direito divino, que fazia de um homem o senhor de um povo, sossobrou na tormenta de 93, e esse resultado é devido, assim em política como em filosofia, ao descrédito em que caíram as idéias religiosas. Havia aliança íntima entre a realeza e o clero; quando os enciclopedistas minaram os dogmas, com o mesmo golpe ruiu o trono.
A fé cega, imposta pelos padres, produziu erros e crimes sem número, contra os quais se revoltou o espírito humano, livre dos preconceitos. Ninguém encara, sem hor­ror, as matanças dos valdenses, dos albigenses, dos cami­sardos. Os gritos das vítimas de S. Bartolomeu, dos Savo­narola e dos João Huss repercutem dolorosamente no fundo dos corações, e os suplícios da Inquisição, seus monstruo­sos autos-de-fé lançam sangrenta mancha na história do catolicismo. Os fanáticos que condenaram Galileu nada conheciam das maravilhas do Universo; a fé estreita e intolerante que possuíam só podia gerar a ignorância e a credulidade.
Os cristãos da idade média faziam mesquinha idéia de nosso Mundo, que só conheciam em parte. Considera­vam-no como a base do Universo; não viam no Céu senão a morada de Deus e nas estrelas mais que pontos luminosos. Tinham, assim, estabelecido uma hierarquia grosseira, co­locando o inferno no centro da Terra e o paraíso acima do Sol, de sorte que éramos o eixo de toda a criação, e fora do nosso mundículo nada existia.
A Astronomia, porém, veio destruir essa fabulosa con­cepção. Ampliaram-se os nossos conhecimentos, a nossos olhos, enlevados, o infinito descobriu os seus espaços. As estrelas não são mais pontos brilhantes disseminados pela mão do Criador, para iluminar as noites, porém mun­dos imensos que rolam no vazio, sóis radiantes, que arras­tam em sua corrida, através do infinito, um cortejo de planetas. A imensidade nos apareceu com suas profundezas insondáveis; sabemos que nossa Terra é parte ínfima dessa poeira de mundos que turbilhonam no éter, de. sorte que as crenças baseadas em nosso orgulho apagaram-se ao so­pro da realidade.
O Universo inteiro ostentou diante de nós os esplen­dores de sua harmonia eterna, a simetria inalterável de suas transformações, sua imutabilidade, sua imensidade! Diante de tão novos espetáculos, reconheceu os homens a inanidade de suas crenças primitivas, queimaram o que haviam adorado, e, levando o desdém do passado aos últi­mos limites, repeliram a noção de Deus e a da alma, como de entidades vetustas, sem nenhum valor objetivo. Assim se estabeleceu a corrente materialista nascida, no 18: século, da luta contra os abusos.
O homem de nossa época não quer mais crer, descon­fia mesmo da razão e se refugia na experiência sensível como a única que lhe pode trazer a verdade; eis por que exige ele provas positivas dos fenômenos que eram, até então, do domínio da filosofia. Estas considerações explicam-nos o pouco êxito de escritores eminentes como Bal­lanche, Constant Savy, Esquiros, Charles Bonnet, Jean Reynaud, que pregaram a imortalidade da alma.
Em nossos dias, um filósofo e sábio, Camille Flamma­rion, segue a rota gloriosa desses grandes homens. Este vulgarizador de gênio semeia a mancheias as idéias da palingenesia humana, e os resultados correspondem a seus nobres esforços; ele deve, porém, a fama que alcançou, mais à beleza do estilo que às idéias que emite. O espírito humano, agitado há séculos entre os mais diversos siste­mas, está cansado das especulações metafisicas e se aferra à observação material como a uma tábua de salvação. Daí o grande crédito dos homens de ciência no momento atual. Eles formam uns corpos sagrados, cujos julgamentos não têm apelação. Possuem a soberba dos antigos colégios sacerdotais, sem lhes partilhar as raras virtudes, e em ambas as partes a intolerância é a mesma.
A maioria do povo, que só percebe o exterior das coisas, vendo os conhecimentos antigos destruídos pelos descobrimentos modernos, crê cegamente em seus novos condutores e se lança, após eles, no materialismo absoluto.
Não mais se raciocina; vai-se de cabeça baixa as últi­mas conseqüências, e, porque está provado que o cérebro é a sede do pensamento, já não existe a alma; porque não se acredita mais em Jeová a pairar sobre as nuvens, Deus não passa de fabuloso mito.
Contra essas tendências é que o Espiritismo vem rea­gir. Sendo o nosso século o da demonstração material, ele apresenta ao observador imparcial fatos bem verifi­cados.
O Espiritismo deixa de parte as teorias nebulosas, desprendem-se dos dogmas e das superstições e vai apoiar-se na base inabalável da observação científica; os próprios positivistas poderão declararem-se satisfeitos com as provas que fornecemos à discussão, porque elas nos são trazidas pelos maiores nomes de que se honra a ciência contemporânea.
Há 50 anos que essa doutrina reapareceu no Mundo, foi submetida a críticas apaixonadas, a ataques muitas vezes desleais. Seus adeptos foram escarnecidos, ridicula­rizados, anatematizados; quis-se fazer deles os últimos representantes da feitiçaria; entretanto, apesar das perse­guições, acham-se na hora atual mais numerosos e mais poderosos do que nunca; encontram-se, não entre os ignorantes, mas entre os esclarecidos; escritores, artistas, sá­bios.
O Espiritismo se espalha no Mundo com rapidez inau­dita; nenhuma filosofia, nenhuma religião tomou tão consi­derável desenvolvimento em tão curto tempo.
Hoje, mais de 40 publicações, mensais ou biebdomadárias, levam ao longe o resultado das pesquisas empreen­didas em todas as partes do Mundo, e seus partidários, grupados em sociedade, contam muitos milhões de aderen­tes em toda a superfície do Globo.
A que é devida essa progressão formidável? Tão-só à simplicidade dos ensinos espiritistas, baseados na justiça de Deus, e, sobretudo, aos meios práticos que essa nova ciência emprega para convencer a todos da imortalidade da alma.
Há duas fases distintas na história do Espiritismo, que é útil assinalar. A primeira compreende o perío­do que vai do ano de 1846, data de sua aparição, até o ano de 1869, que foi o da morte de um escritor célebre, Allan Kardec. Durante esse tempo, estudou-se em toda parte o fenômeno espírita, as experiências se multiplicaram e os observadores sérios descobriram que os fatos novos eram produzidos por inteligências que viviam uma existên­cia diferente da nossa. Dessa certeza nasceu o desejo de estudar tão curiosas manifestações, e, com documen­tos recolhidos em toda a parte, Allan Kardec, compôs O Livro dos Espíritos e, mais tarde, O Livro dos Médiuns, que são o  indispensável às pessoas desejosas de se iniciarem nessas novas práticas. O grande filósofo que os escreveu, imprimiu vigoroso impulso a tais investigações, e à sua dedicação infatigável, pode dizer-se, é que se deve a propagação tão rápida dessas consoladoras verdades.
O segundo período, que se estende de 1869 até nossos dias, é caracterizado pelo movimento científico, que se voltou para as manifestações dos Espíritos. A Inglaterra, a Alemanha, a América parecem caminhar de acordo nessas pesquisas. Já os mais autorizados sábios desses países proclamam alto a realidade dos fenômenos espiritistas e, den­tro em pouco, o mundo inteiro se associará a esses nobres trabalhos, que têm por fim arrancar-nos à crença degra­dante do materialismo. Já veremos os documentos em que se estriba nossa afirmação.
Passou o tempo em que se podia, a priori, repelir as nossas idéias sem lhes dar a honra de as discutir; hoje, o Espiritismo se impõe à atenção pública. É preciso que os absurdos preconceitos que o acolheram no berço desapa­reçam diante da realidade. É necessário saber que, longe de serem visionários, de possuírem cérebro oco, os espiri­tistas são observadores frios e metódicos, que só relatam os fatos bem observados.
Força é que se convençam de que muitos milhões de homens não são vítimas de uma loucura contagiosa; que, se crêem, é porque a doutrina lhes oferece os mais dignos ensinos, porque abre ao espírito os mais vastos horizontes. Convém, enfim, que se deixem de lado as fáceis zombarias empregadas há vinte e cinco anos nos jornalecos, e que nem mesmo fazem rir os que os editam. A nova ciência que ensinamos não consiste, somente, no movimento de uma mesa, porque, tão grande é a distância que vai destes modestos ensaios às suas consequências, quão a maçã de Newton à gravitação universal.
Convidamos os homens de boa fé a fazerem pesquisas sérias, pedimos-lhes que meditem nos ensinamentos de nossa filosofia e eles se convencerão de que nas nossas explicações nunca intervém o sobrenatural.
O Espiritismo repele o milagre com todas as forças. Faz de Deus o ideal da justiça e da ciência; diz que o Criador do Mundo, tendo estabelecido leis que exprimem seu pensamento, não pode derrogá-las, pois que elas são a obra da razão suprema e é impossível qualquer infra­ção a essas leis. Os fatos espíritas podem ser todos, senão explicados, pelo menos compreendidos com os dados da ciência atual, o que demonstraremos no fim desta obra.
A parte espiritual do homem foi desprezada pelos sábios; seus trabalhos versavam tão-só sobre o corpo e eis que os Espíritos invadem a Ciência que os havia des­denhado.

 O Espiritismo Perante à Ciência - Gabriel Delanne
Terceira Parte - Cap. 1.

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