A Doutrina Espírita, no que respeita às penas
futuras, não se baseia numa teoria preconcebida; não é um sistema substituindo
outro sistema: em tudo ela se apoia nas observações, e são estas que lhe dão
plena autoridade. Ninguém jamais imaginou que as almas, depois da morte, se
encontrariam em tais ou quais condições; são elas, essas mesmas almas, partidas
da Terra, que nos vêm hoje iniciar nos mistérios da vida futura, descrever-nos
sua situação feliz ou desgraçada, as impressões, a transformação pela morte do
corpo, completando, em uma palavra, os ensinamentos do Cristo sobre este ponto.
Preciso é afirmar que se não trata neste caso
das revelações de um só Espírito, o qual poderia ver as coisas do seu ponto de
vista, sob um só aspecto, ainda dominado por terrenos prejuízos. Tampouco se
trata de uma revelação feita exclusivamente a um indivíduo que pudesse
deixar-se levar pelas aparências, ou de uma visão extática suscetível de ilusões, e não passando muitas vezes de reflexo de
uma imaginação exaltada.
Trata-se, sim, de inúmeros exemplos fornecidos
por Espíritos de todas as categorias, desde os mais elevados aos mais
inferiores da escala, por intermédio de outros tantos auxiliares (médiuns)
disseminados pelo mundo, de sorte que a revelação deixa de ser privilégio de
alguém, pois todos podem prová-la, observando-a, sem obrigar-se à crença pela
crença de outrem.
O Céu e o Inferno
Parte Primeira. Cap. VII.