Definindo o homem de bem, em O
Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XVII, item 3), diz Allan
Kardec:
O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor
e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus
próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei [...] se desprezou
voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa
dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.
Não sei se acontece diferente com você, amigo leitor (em caso afirmativo,
parabéns!), mas, lendo essa introdução, chego à lamentável conclusão de que não
sou um homem de bem.
Constato que estou longe de exercitar plenamente a lei de justiça,
amor e caridade, e de sempre
fazer aos outros o que desejaria que me fizessem.
Um único dia, ontem, em que me dei ao trabalho de uma análise, foi
suficiente para evidenciar quão longe estou do ideal apresentado por Kardec:
Lei de Justiça.
Cedi à tentação e comprei cópia genérica de um filme,
desrespeitando os direitos autorais.
Lei de Amor.
Irritei-me com um filho, admoestando- o acremente em face de um
destempero próprio de adolescente imaturo.
Lei de Caridade.
Dei uns trocados a uma mulher que me procurou com um filho doente
nos braços, exercitando a mera esmola que despacha logo o pedinte.
Não obstante, se algo pode ser invocado em minha defesa, digo-lhe,
caro leitor, que venho tentando anular o homem velho, de arraigadas fraquezas,
que há em mim, favorecendo o nascimento do homem novo, o homem de bem.
Admito que não é um exercício de virtude; não as possuo. Apenas
atendo a imperiosa necessidade. Estou perfeitamente consciente, graças à
Doutrina Espírita, de que esse empenho se relaciona com algo que interessa muito
tanto a mim quanto a você, que cultiva a paciência de acompanhar meus
raciocínios.
Está na questão 921, de O Livro dos Espíritos. Interroga Kardec:
Concebe-se que o homem será feliz na Terra, quando a Humanidade estiver
transformada. Mas, enquanto isso não se verifica, poderá conseguir uma
felicidade relativa?
Responde o Mentor Espiritual:
“O homem é quase sempre o obreiro da sua própria infelicidade. Praticando
a lei de Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande
quanto o comporte a sua existência grosseira”.
A mensagem é clara.
Nossas dores e males, atribulações e tristezas estão diretamente relacionados
com o fato de não cumprirmos as leis divinas, sintetizadas nas lições
transmitidas e exemplificadas por Jesus.
Então, batalhar com todas as forças de nossa alma por ser um homem
de bem não é simples concessão que fazemos à vivência religiosa.
Muito mais que isso, é a base de nosso bem-estar, de toda a
felicidade que possamos almejar.
Por isso estou tentando, sem muito sucesso em princípio, mas com
perseverança. Tento evitar o perigoso amornamento, a convivência pacifica do certo e do errado,
do vício e da virtude, do bem e do mal.
Aí reside o perigo.
Jesus é taxativo a esse respeito (Mateus, 7:21-23): Nem todo aquele que diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos
céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em
teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos
muitos milagres?
Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de
mim, vós que praticais a iniqüidade!
Lembrando velha expressão popular, seria conveniente, amigo leitor,
pôr as barbas de molho, prestando atenção ao que pensamos e fazemos.
Cultivar aquele vigiai e orai recomendado por Jesus, a fim de que no último dia, o derradeiro da presente existência, não colhamos desagradáveis surpresas ao
embarcar para o Além.
Seria oportuno, também, não esquecer que o verdadeiro homem de bem
é aquele que trabalha pelo bem dos homens.
O Reformador - Junho de 2008