1ª Podem os médiuns perder a faculdade que
possuem?
“Isso frequentemente acontece, qualquer que seja
o gênero da faculdade. Mas, também, muitas vezes apenas se verifica uma
interrupção passageira, que cessa com a causa que a produziu.”
2ª Estará no esgotamento do fluido a causa da
perda da mediunidade?
“Seja qual for a faculdade que o médium possua,
ele nada pode sem o concurso simpático dos Espíritos. Quando nada mais obtém,
nem sempre é porque lhe falta a faculdade; isso não raro se dá, porque os
Espíritos não mais querem, ou podem servir-se dele.”
3ª Que é o que pode causar o abandono de um
médium, por parte dos Espíritos?
“O que mais influi para que assim procedam os
bons Espíritos é o uso que o médium faz da sua faculdade. Podemos abandoná-lo,
quando dela se serve para coisas frívolas, ou com propósitos ambiciosos; quando
se nega a transmitir as nossas palavras, ou os fatos por nós produzidos, aos
encarnados que para ele apelam, ou que têm necessidade de ver para se
convencerem. Este dom de Deus não é concedido ao médium para seu deleite e,
ainda menos, para satisfação de suas ambições, mas para o fim da sua melhora espiritual
e para dar a conhecer aos homens a verdade. Se o Espírito verifica que o médium
já não corresponde às suas vistas e já não aproveita das instruções nem dos conselhos
que lhe dá, afasta-se, em busca de um protegido mais digno.”
4ª Não pode o Espírito que se afasta ser
substituído e, neste caso, não se conceberia a suspensão da faculdade?
“Espíritos não faltam, que outra coisa não
desejam senão comunicar-se e que, portanto, estão sempre prontos a substituir
os que se afastam; mas, quando o que abandona o médium é um Espírito bom, pode
suceder que o seu afastamento seja apenas temporário, para privá-lo, durante certo
tempo, de toda comunicação, a fim de lhe provar que a sua faculdade não depende dele médium e que, assim, razão não há para dela se
vangloriar. Essa impossibilidade temporária também serve para dar ao médium a
prova de que ele escreve sob uma influência estranha, pois, de outro modo, não
haveria intermitências.”
“Em suma, a interrupção da faculdade nem sempre
é uma punição; demonstra às vezes a solicitude do Espírito para com o médium, a
quem consagra afeição, tendo por objetivo proporcionar-lhe um repouso material
de que o julgou necessitado, caso em que não permite que outros Espíritos o
substituam.”
5ª Veem-se, no entanto, médiuns de muito mérito,
moralmente falando, que nenhuma necessidade de repouso sentem e que muito se
contrariam com essas interrupções, cujo fim lhes escapa.
“Servem para lhes pôr a paciência à prova e para
lhes experimentar a perseverança. Por isso é que os Espíritos nenhum termo, em
geral, assinam à suspensão da faculdade mediúnica; é para verem se o médium
descoroçoa. É também para lhe dar tempo de meditar as instruções recebidas. Por
essa meditação dos nossos ensinos é que reconhecemos os espíritas
verdadeiramente sérios. Não podemos dar esse nome aos que, na realidade, não
passam de amadores de comunicações.”
6ª Será preciso então, que, nesse caso, o médium
prossiga nas suas tentativas para escrever?
“Se o Espírito lhe aconselhar isto, deve; se lhe
disser que se abstenha, não deve.”
7ª Haveria meio de abreviar essa prova?
“A resignação e a prece. Demais, basta que faça
cada dia uma tentativa de alguns minutos, visto que inútil lhe será perder o
tempo em ensaios infrutíferos. A tentativa só deve ter por fim verificar se já
recobrou, ou não, a faculdade.”
8ª A suspensão da faculdade não implica o
afastamento dos Espíritos que habitualmente se comunicam?
“De modo algum. O médium se encontra então na
situação de uma pessoa que perdesse temporariamente a vista, a qual, por isso,
não deixaria de estar rodeada de seus amigos, embora impossibilitada de os ver.
Pode, portanto, o médium e até mesmo deve continuar a comunicar-se pelo pensamento
com seus Espíritos familiares e persuadir-se de que é ouvido. Se é certo que a
falta da mediunidade pode privá-lo das comunicações ostensivas com certos
Espíritos, também certo é que não o pode privar das comunicações
morais.”
9ª Assim, a interrupção da faculdade mediúnica
nem sempre traduz uma censura da parte do Espírito?
“Não, sem dúvida, pois que pode ser uma prova de
benevolência.”
10ª Por que sinal se pode reconhecer a censura
nesta interrupção?
“Interrogue o médium a sua consciência e inquira
de si mesmo qual o uso que tem feito da sua faculdade, qual o bem que dela tem
resultado para os outros, que
proveito há tirado dos conselhos que se lhe têm dado e terá a resposta.”
11ª O médium que ficou impossibilitado de
escrever poderá recorrer a outro médium?
“Depende da causa da interrupção, que tem por
fim, amiúde, deixar-vos algum tempo sem comunicações, depois de vos terem dado
conselhos, a fim de que vos não habitueis a nada fazer senão com o nosso
concurso. Se este for o caso, ele nada obterá recorrendo a outro médium, o que
também
ocorre com o fim de vos provar que os Espíritos
são livres e que não está em vossas mãos obrigá-los a fazer o que queirais.
Ainda por esta razão é que os que não são médiuns nem sempre recebem todas as
comunicações que desejam.”
Nota. Deve-se efetivamente observar que aquele que recorre a terceiro
para obter comunicações, não obstante a qualidade do médium, muitas vezes nada
de satisfatório consegue, ao passo que doutras vezes as respostas são muito
explícitas. Isso tanto depende da vontade do Espírito, que ninguém coisa alguma
adianta mudando de médium. Os próprios Espíritos como que
dão, a esse respeito, uns aos outros a palavra
de ordem, porquanto o que não se obtiver de um, de nenhum mais se obterá.
Cumpre então que nos abstenhamos de insistir e de impacientar-nos, se não
quisermos ser vítimas de Espíritos enganadores, que responderão, dado
procuremos à viva força uma resposta, deixando os bons que eles o façam, para
nos punirem a insistência.
12ª Com que fim a Providência outorgou de
maneira especial, a certos indivíduos, o dom da mediunidade?
“É uma missão de que se incumbiram e cujo
desempenho os faz ditosos. São os intérpretes dos Espíritos com os homens.”
13ª Entretanto, médiuns há que manifestam
repugnância ao uso de suas faculdades.
“São médiuns imperfeitos; desconhecem o valor da
graça que lhes é concedida.”
14ª Se é uma missão, como se explica que não
constitua privilégio dos homens de bem e que semelhante faculdade seja
concedida a pessoas que nenhuma estima merecem e que dela podem abusar?
“A faculdade lhes é concedida, porque precisam
dela para se melhorarem, para ficarem em condições de receber bons ensinamentos.
Se não aproveitam da concessão, sofrerão as consequências. Jesus não pregava de
preferência aos pecadores, dizendo ser preciso dar àquele que não tem?”
15ª As pessoas que desejam muito escrever como
médiuns, e que não o conseguem, poderão concluir daí alguma coisa contra si
mesmas, no tocante à benevolência dos Espíritos para com elas?
“Não, pois pode dar-se que Deus lhe haja negado
essa faculdade, como negado tenha o dom da poesia, ou da música. Porém, se não
forem objeto desse favor, podem ter sido de outros.”
16ª Como pode um homem aperfeiçoar-se mediante o
ensino dos Espíritos, quando não tem, nem por si mesmo, nem com o auxílio de
outros médiuns, os meios de receber de modo direto esse ensinamento?
“Não tem ele os livros, como tem o cristão o
Evangelho? Para praticar a moral de Jesus, não é preciso que o cristão tenha
ouvido as palavras ao lhe saírem da boca.”
Livro dos Médiuns - Segunda Parte
Cap. XVII - Formação dos Médiuns