
2.
“Se somente amardes os que vos amam, que mérito se vos
reconhecerá uma vez que as pessoas de má vida também amam os que as amam? – Se
o bem somente o fizerdes aos que vo-lo fazem, que mérito se vos reconhecerá,
dado que o mesmo faz a gente de má vida? – Se só emprestardes àqueles de quem
possais esperar o mesmo favor, que mérito se vos reconhecerá, quando as pessoas
de má vida se entreajudam dessa maneira, para auferir a mesma vantagem? Pelo que
vos toca, amai os vossos inimigos, fazei bem a todos e auxiliai sem
esperar coisa alguma. Então, muito grande será a vossa recompensa e sereis
filhos do Altíssimo, que é bom para os ingratos e até para os maus. – Sede,
pois, cheios de misericórdia, como cheio de misericórdia é o vosso Deus.” (S.
LUCAS, 6:32 a 36.)
3.
Se o amor do próximo constitui o princípio da caridade, amar os
inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal
virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o
orgulho.

A
diversidade na maneira de sentir, nessas duas circunstâncias diferentes,
resulta mesmo de uma lei física: a da assimilação e da repulsão dos fluidos. O
pensamento malévolo determina uma corrente fluídica que impressiona penosamente.
O pensamento benévolo nos envolve num agradável eflúvio. Daí a diferença das
sensações que se experimenta à aproximação de um amigo ou de um inimigo. Amar
os inimigos não pode, pois, significar que não se deva estabelecer diferença
alguma entre eles e os amigos. Se este preceito parece de difícil prática,
impossível mesmo, é apenas por entender-se falsamente que ele manda se dê no coração,
assim ao amigo, como ao inimigo, o mesmo lugar. Uma vez que a pobreza da
linguagem humana obriga a que nos sirvamos do mesmo termo para exprimir matizes
diversos de um sentimento, à razão cabe estabelecer as diferenças, conforme os
casos.
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4.
Amar os inimigos é, para o incrédulo, um contra-senso, Aquele
para quem a vida presente é tudo, vê no seu inimigo um ser nocivo, que lhe
perturba o repouso e do qual unicamente a morte, pensa ele, o pode livrar. Daí,
o desejo de vingar-se. Nenhum interesse tem em perdoar, senão para satisfazer o
seu orgulho perante o mundo. Em certos casos, perdoar-lhe parece mesmo uma
fraqueza indigna de si. Se não se vingar, nem por isso deixará de conservar rancor
e secreto desejo de mal para o outro.
Para
o crente e, sobretudo, para o espírita, muito diversa é a maneira de ver,
porque suas vistas se lançam sobre o passado e sobre o futuro, entre os quais a
vida atual não passa de um simples ponto. Sabe ele que, pela mesma destinação
da Terra, deve esperar topar aí com homens maus e perversos; que as maldades
com que se defronta fazem parte das provas que lhe cumpre suportar e o elevado
ponto de vista em que se coloca lhe torna menos amargas as vicissitudes, quer
advenham dos homens, quer

O
homem que no mundo ocupa elevada posição não se julga ofendido com os insultos
daquele a quem considera seu inferior. O mesmo se dá com o que, no mundo moral,
se eleva acima da humanidade material. Este compreende que o ódio e o rancor o
aviltariam e rebaixariam. Ora, para ser superior ao seu adversário, preciso é
que tenha a alma maior, mais nobre, mais generosa do que a desse último.
E.S.E - Cap. XII - Amai os Vossos Inimigos. Itens 1 à 4.