A
mediunidade vidente é evidentemente uma das mais curiosas manifestações dos
Espíritos. Não há melhor prova da sobrevivência que aquela que permite a um
Espírito tomar-se visível. Para chegar a este resultado deve-o fazer no
encamado certas modificações perispirituais, que é preciso estudar. Distingamos
os dois casos seguintes:
1 - O médium
vê com os olhos;
2 - O médium
vê em estado de desprendimento.
Existe um
meio simples, por onde um médium pode saber em que estado se encontra. Ao ver
um Espírito, se desvia o olhar ou fecha os olhos, e a aparição continua
visível; é que ele está desprendido; se, pelo contrário, não percebe mais o
Espírito, é que vê com os olhos do corpo.
No
desprendimento, a visão se opera fora dos órgãos dos sentidos, e disso não nos
ocuparemos por saber que os desencarnados vêem, ouvem, e, de maneira geral,
percebem por todas as partes do perispírito. A vista pela alma, em estado de
desprendimento, entra, pois, no caso geral da visão dos Espíritos entre si.
O que convém
notar é que o Espírito é, entretanto, obrigado a agir sobre o médium, para
conseguir-lhe o desprendimento. Que é, pois, o desprender-se? Para a alma é
estar menos acorrentada ao corpo. Sabemos que, durante sua passagem na Terra, o
Espírito está ligado ao invólucro material pelo perispírito, que, ele próprio,
aciona o sistema nervoso. Quanto mais ativa é a vida do encarnado, mais
abundante é a circulação nervosa e menos pode o Espírito desprender-se; mas se,
como vimos na teoria do magnetismo, é possível paralisar, momentaneamente, os
laços que prendem a alma ao corpo, produz-se uma irradiação do Espírito
encarnado, que, nessa condição, goza de quase todas as faculdades que possui na
erraticidade.
Este estado
particular se nos apresenta frequentemente no sono. Os sonhos são, a maior
parte das vezes, lembranças que conservamos de nossas viagens no Espaço; ainda
que, ao despertar, não nos recordemos dos fatos de que fomos testemunhas
durante a noite, não se deve concluir que a alma não se tenha desprendido.
Deixaremos de parte esse aspecto da questão, para nos ocuparmos, especialmente,
das manifestações visuais, em estado de vigília, e pelos órgãos do médium.
Em primeiro
lugar, definamos de maneira precisa, o que entendemos por mediunidade vidente,
porque é bom não tomarmos por aparições as figuras diáfanas que se percebem na
semi-sonolência e ao despertar. É preciso cuidado contra as causas de erro que
provêm da imaginação superexcitada. Quem já não acreditou distinguir, em dados
momentos, figuras, paisagens, nos desenhos bizarros formados pelas nuvens? E a
razão nos diz que elas não existem, em realidade. Sabe-se, também, que na
obscuridade os objetos revestem aparências extraordinárias. Quantas vezes, num
quarto, à noite, uma veste pendurada, um vago reflexo luminoso não parecem ter
uma forma humana aos olhos dos de maior sangue frio? Se a isso se vem juntar o
medo ou uma credulidade exagerada, a imaginação faz o resto. Compreenderemos,
assim, o que se chama à ilusão, mas não teremos nenhum esclarecimento sobre a
alucinação.
Eis-nos
chegado à grande palavra empregada, a todo propósito, pelos materialistas, para
explicar a mediunidade vidente. Procuremos precisar os caracteres especiais da
alucinação e vejamos se têm algo de comum com a mediunidade.
Vista
medianímica pelos olhos
Tendo
eliminado a visão da alma pelo desprendimento, devemos estudar agora a visão
pelos órgãos da vista.
Quando um
médium vê um Espírito, pode-se, a priori, estabelecer a seguinte questão. É o
médium que experimenta uma modificação ou o Espírito? Com efeito, no estado
ordinário, não vemos os Espíritos, porque nossos órgãos são muito grosseiros
para nos fazer perceber certas vibrações que lhes escapam. Mas quando se realiza
a visão, ou nossos órgãos adquiriram maior sensibilidade ou o Espírito fez com
que seu invólucro experimentasse certas modificações que, diminuindo a rapidez
das vibrações moleculares perispirituais, pudesse torná-lo visível.
Se este
último modo de encarar o fenômeno fosse exato, o Espírito seria visto por todas
as pessoas presentes: é o que se dá, no caso das materializações, que já estudamos
com Crookes; mas, quando numa assembléia, só uma pessoa vê os Espíritos, é que
esta experimenta uma variação orgânica do sentido da vista, que é interessante
estudar.
O olho, como
se sabe, é uma verdadeira câmara escura, no fundo da qual se desenham as
impressões luminosas. A retina, formada pela expansão do nervo ótico, transporta
ao cérebro as vibrações luminosas; aí elas se transformam em sensações. Os
fisiologistas não se limitaram a estudar a participação da retina na função
visual, remontando dos efeitos às causas, mas procuraram a explicação desses
fatos.
Para
explicar a sensação da cor, a do claro, a do escuro, eles admitiram velocidades
diferentes nas ondas de um fluido (éter), que estivesse espalhado em todo o
Universo. Essas ondas impressionariam a retina, de maneira diferente, e a
natureza da percepção de que a alma tem consciência, seria subordinada a essas
impressões variáveis. Por esta teoria, admite-se que os fenômenos de visão
sejam, simplesmente, o resultado da percepção, pelo sensórium, de um estado
determinado da retina, e a sensação da obscuridade é explicada pela ausência
de qualquer sensação, e pelo estado da própria retina.
O que prova,
aliás, a existência de uma modificação superveniente na retina, durante a
percepção dos objetos luminosos, é a possibilidade de reproduzir as mesmas sensações
por outro excitante, que não a luz. Toda causa capaz de determinar uma
alteração no estado da membrana nervosa do olho determina sensações íntimas, ou
por outra, subjetivas de luz. Comprimindo-se o olho com o dedo, percebem-se
figuras de formas diversas: ora anulares, ora radiadas.
Acontece,
por vezes, que estas sensações subjetivas se produzem espontaneamente. Diz
Muller ter verificado, em certos casos, a aparição de uma pequena mancha branca,
que se produzia ao mesmo tempo que os movimentos respiratórios; virando-se
bruscamente os olhos para o lado, vêem-se aparecer, de repente, círculos
luminosos, no campo visual mergulhado na obscuridade.
Admitidas as
sensações de luz, como o resultado de uma alteração sobrevinda na retina,
indagaram alguns fisiologistas onde esse estado era percebido pela alma. É evidentemente
no encéfalo e não na retina. O que põe fora de dúvida a participação da retina
no ato da visão é que os animais de vista mais penetrante são os que têm a
retina mais desenvolvida. Sendo esta membrana a extremidade expandida do nervo
ótico, e não apresentando uma sensibilidade igual em toda a sua superfície, as
fibras que compõem o nervo ótico não vibram todas em uníssono. As mais
sensíveis poderão ser impressionadas por ondas luminosas, que deixarão as
outras em repouso. Tal fato é a conseqüência da especificação dos órgãos, ou
seja da tendência que possuem as fibras para se acomodarem a um estado
vibratório determinado.
A
sensibilidade de um órgão depende do maior ou menor número de fibras que ele
contém, sendo cada uma capaz de tomar um movimento vibratório particular, em
relação com as causas externas que podem influenciar esse órgão.
Não
esqueçamos que uma condição é indispensável ao bom funcionamento dos aparelhos
sensoriais, a de que cada órgão tenha uma quantidade determinada de fluido
nervoso à sua disposição; as sensações serão agudas ou nulas, conforme aquela
quantidade aumenta ou diminui. Temos numerosos exemplos. Em certos estados
patológicos o ouvido atinge uma agudeza notável; esse desenvolvimento é devido
à acumulação momentânea do fluido nervoso no nervo acústico; o mesmo acontece
com os outros sentidos.
Isto posto,
vejamos, pelo estudo da luz, entre que limites de vibrações se pode exercer, no
estado normal, o sentido da vista.
Suponhamos
que fazemos passar, através de um prisma, um raio de sol; se recolhermos sobre
um ecran este raio refratado, notaremos que ele forma uma faixa luminosa,
composta de sete cores, que se chamou de espectro solar. Os coloridos extremos
são o vermelho e o violeta; além dessas duas cores o olho não percebe mais
sensações luminosas. Entretanto, colocando-se sais de prata nessa parte
obscura, eles são decompostos, o que prova que, além do violeta, existem
radiações particulares que o olho não é capaz de apanhar, às quais o termômetro
é insensível, mas cuja atividade química é. poderosa. Além do vermelho, existem
ondulações caloríficas invisíveis.
Chegamos,
assim, a esta conclusão necessária, a de que o espectro completo formado pelas
radiações solares se prolonga além do violeta e do vermelho, e que é só a parte
média do especto total que nossos olhos podem distinguir.
Existe,
pois, luz que não vemos, há vibrações luminosas inapreciáveis à vista, porque
a retina, que é o aparelho receptor, não pode registrar as vibrações luminosas
muito rápidas para ela. Cálculos recentes mostraram que as ondulações etéreas,
de menos de 400 trilhões por segundo, ou mais de 790, são impotentes para
impressioná-la. O mesmo para com o ouvido e com os outros sentidos, de sorte
que o homem é uma máquina animal dotada de aparelhos receptores, que funcionam
entre fraquíssimos limites, comparados à infinidade da natureza.
Esta idéia é
capital para a compreensão dos fenômenos espíritas. Só percebemos a matéria
pela vista, quando suas vibrações não ultrapassam 700 trilhões por segundo,
mas, como vimos, há ondulações mais rápidas e que nos escapam. Ora, os fluidos
perispirituais são matéria em estado de rarefação extrema; possuem um movimento
vibratório muito rápido, de sorte que, em estado normal, nosso olho não pode
ver os Espíritos. Mas, se pudéssemos diminuir o número das vibrações
perispirituais, se conseguíssemos trazê-las aos limites compreendidos na visão,
veríamos os Espíritos. Este resultado pode ser atingido de duas maneiras: 1:,
diminuindo o número das ondulações luminosas; 2:, aumentando o poder visual
dos olhos.
É possível
diminuir o movimento vibratório de um raio de luz? Não hesitamos em afirmá-lo,
porque notáveis experiências feitas ultimamente vieram tornar essa verdade
indubitável.
Os raios
luminosos ultravioleta, do espectro, invisíveis até então, tornam-se visíveis
quando os deixam cair numa espécie particular de vidro, contendo um silicato de
um metal denominado urânio. Esse vidro tem a propriedade de tornar visíveis os
raios que, sem ele, não nos impressionariam os olhos. Se tomarmos um pedaço
desse vidro e o iluminarmos, sucessivamente, à luz elétrica, à de uma vela, à
de uma lâmpada de gás, e se o colocarmos no campo de um espectro prismático de
luz branca, vê-lo-emos brilhar conforme a cor da luz que lhe cair em cima. Se
o iluminarmos com raios ultravioleta, notá-lo-emos com uma cor misteriosa, que
revela a presença de raios até agora invisíveis aos olhos mortais.
Examinemos o
caso em que a potência do olho pode ser aumentada; esta operação terá ainda,
por fim, fazer ver os Espíritos. A alma, dissemo-lo muitas vezes, é uma
essência indivisível, imaterial e intangível, que constitui a personalidade de
cada indivíduo; ela é cercada de matéria quintessenciada, que lhe forma o
invólucro e pela qual entra em relação com a natureza exterior. Esse corpo
fluídico, em virtude de sua rarefação, possui um movimento molecular mais
rápido que o dos gases e dos vapores, que já são invisíveis para nós. Logo,
também ele não será visível, porque os olhos não têm, no estado normal, fibra
que possa vibrar harmonicamente com ele.
Se um
Espírito, porém, quer manifestar sua presença, entra em relação fluídica com o
encarnado, assim como vimos precedentemente, e, estabelecida a comunicação,
acumula pelo magnetismo espiritual, no nervo ótico, uma quantidade de fluido
nervoso maior que de ordinário; certas fibras se sensibilizam e podem, desde
logo, entrar em vibração correspondente à do invólucro do Espírito. Desde que
se produz esse fenômeno, o ser, assim modificado, vê o Espírito e o verá
enquanto a ação continuar.
Pouco a
pouco, esta operação se vai renovando, grande número de vezes; as fibras
adquirem maior aptidão vibratória, as ondas luminosas se propagam no organismo,
seguindo a linha a que Hérbert Spencer deu o nome de linha de menor
resistência, de sorte que a onda caminha, cada vez com mais facilidade, ao
longo dessa linha, e, por fim, ela, mesmo, acaba por tomar naturalmente esse
movimento vibratório, desde que a primeira molécula é agitada. O médium, na
realidade, tem um sentido novo, devido à extensão do aparelho visual.
Nós o
sabemos, quando o Espírito se quer tornar visível a muitas pessoas, é sempre
obrigado a tomar ao médium fluido nervoso, mas a modificação se opera nele e
não mais nos olhos dos assistentes. Vimos que a simples alteração no movimento
molecular de um corpo, pode fazê-lo passar do estado transparente à opacidade.
Da mesma forma, um vapor que se condensa, isto é, cujo movimento vibratório
diminui, torna-se muito rapidamente visível, sob a forma de nevoeiro; enfim,
que o vidro de urânio permite ver os raios do espectro, os quais, sem ele,
seriam invisíveis.
O Espírito
pode, portanto, agir de maneira análoga. Esse fenômeno pinta-nos fielmente o
que se passa no caso da fotografia dos Espíritos. Estudemos esse novo gênero de
manifestação.
Quinta Parte - Capítulo III
O Espiritismo Perante a Ciência
O Espiritismo Perante a Ciência
Gabriel Delanne