terça-feira, 30 de setembro de 2014

O Adolescente, O Amor e a Paixão



Período de exuberância hormonal, a adolescência se caracteriza pelos impulsos e desmandos da emotividade. Confundem-se as emoções, e todo o ser é um conjunto de sensações desordenadas, num turbilhão de impressões que aturdem o jovem. Irrompem, naturalmente, os desejos da sen­sualidade, e se confundem os sentimentos, por falta da capacidade de discernir gozo e plenitude, êxtase sexual e harmonia interior.




É nessa fase que se apresentam as paixões avassaladoras e irresponsáveis que desajustam e alucinam, gerando problemas psicológicos e sociais muito graves, quando não são contro­ladas e orientadas no sentido da superação dos desejos carnais. 

Subitamente o jovem descobre interesses novos em relação a outro, àquele com quem convive e nunca antes experimentara nada de original, que se diferenciasse da fraternidade, da amizade sem compromisso. A libido se lhe impõe e propele-o a relacionamentos apressados quão ardorosos, que logo se esfumam. Quando não atendida, por circunstâncias violentas, dá surgimento a estados depressivos, que podem perturbar profundamente o adolescente, que passa a cultivar o pessimismo e a angústia, derrapando em desajustes psicológicos de curso demorado. 

O ideal, nesse momento, é a canalização dessa força criadora para as experiências da arte, do trabalho, do estudo, da pesquisa, que a transformam em energia superior, potencializada pela beleza e pelo equilíbrio. Nesse sentido, deve-se recorrer aos desportos, à ginástica, às caminhadas e atividades ecológicas que, além de úteis à comunidade, também gastam o excesso hormonal, tanto físico quanto psíquico.

As licenças morais da atualidade e os veículos de comunicação pervertidos contribuem para um amadurecimento precoce, indevido, e a irrupção da libido, em razão das provocações audio-visuais, das conversações insanas, que têm sempre por base o sexo em detrimento da sexualidade, do conjunto de valores que se expressam na personalidade, leva os jovens imaturos a relacionamentos inoportunos, por curiosidade ou precipitação, impondo-lhes falsas necessidades, que passam a atormentá-los, seviciando-os emocionalmente, ou empurrando-os para os mecanismos exaustivos da auto-satisfação, com desajustes da função sexual em si mesma agredida e mentalmente mal direcionada.

O amor, na adolescência, é um sentimento de posse, que se apresenta como necessidade de submeter o outro à sua vontade, para que sejam atendidos os caprichos da mais variada ordem. Por imaturidade emocional, nessa fase, não se tem condições de experimentar as delícias do respeito aos direitos do outro a quem se diz amar, antes impondo sua forma de ser; não há capacidade para renunciar em favor daquele a quem se direciona o afeto, mas se deseja receber sempre sem a preocupação da retribuição inevitável, que é o sustentáculo basilar do amor.
 

O amor real é expressão de maturidade, de firmeza de caráter, de coerência, de consciência de responsabilidade, que trabalham em favor dos envolvidos no sentimento que energiza, enriquecendo de aspirações pelo bom, pelo belo, pela felicidade. Envolve-se em ternura e não agride, sempre disposto a ceder, desde que do ato resulte o bem-estar para o ser amado. Rareia, como é natural, no período juvenil, que o tempo somente consolida mediante as experiências dos relacionamentos bem sucedidos.


Há jovens capazes de amar em profundidade, sem dúvida, por serem Espíritos experientes nas lutas evolutivas, encontrando-se em corpos novos, em desenvolvimento, porém investidos da capacidade vigorosa de sentir e entender.


Celebrizaram-se, na História, os amores-lendários de Romeu e Julieta, terminando em tragédia, em razão da imaturidade dos enamorados. Enquanto eles se entregaram ao autocídio inditoso, surgem as imagens alcandoradas da ternura de Dante e Beatriz, de Abelardo e Heloísa, amadurecidos pela própria vida e dispostos à renúncia, desde que redundando em felicidade do outro.


O amor produz encantamento e adorna a alma de beleza, vitalizando o corpo de hormônios específicos, porém oferecendo capacidade de sacrifícios inimagináveis.


Maria de Madalena, jovem pervertida e enferma da alma, encontra Jesus e O ama, tocada nos sentimentos nobres que estavam asfixiados pela lama das paixões servis, levantando­-se para a dignificação pessoal.


Saulo de Tarso, ainda jovem, perseguidor inclemente dos homens do caminho, encontra Jesus e enternece-se, deixando-se dominar pela Sua presença e dá-se-Lhe até o holocausto.


Mais de um milhão de vidas, que foram tocadas pelo Seu amor, facultaram-se banir, ultrajar, morrer, sem qualquer reação, confiantes na compensação afetiva que deflui do amor, e que experimentavam.


Não somente o amor na sua feição espiritual, mas também o maternal, o fraternal, o sexual, quando não tem por meta somente o relacionamento célere, mas sim, a convivência agra­dável e vitalizadora que se converte em razão da própria vida.


A paixão é como labareda que arde, devora e se consome a si mesma pela falta de combustível. O amor é a doce presença da alegria, que envolve as criaturas em harmonias luarizantes e duradouras. Enquanto uma termina sem deixar saudades, o outro prossegue sem abrir lacunas, mesmo quando as circunstâncias não facultam a presença física. A primeira é arrebatadora e breve; o segundo é confortador e permanente.


Desse modo, explodem muitas paixões na adolescência, e poucas vezes nasce o amor que irá definir os rumos afetivos do jovem.



É nesse período que, muitos compromissos se firmam, sem estrutura para o prosseguimento, para os desafios, para o futuro, quando as aspirações se modificam por imperativo da própria idade e os quadros de valores se apresentam alterados. Tais uniões, nessa fase de paixões, tendem ao fracasso, se por acaso não forem assentadas em bases de segurança bem equilibradas. Passado o fogo dos desejos, termina a união, acaba o amor, que afinal jamais existiu...


É indispensável que, no período juvenil, todos se permitam orientar pela experiência e maturidade dos pais e mestres, a fim de transitar com segurança, não assumindo compromissos para os quais ainda não possui resistência psicológica, moral, existencial.


Cabe, portanto, ao adolescente, a submissão dinâmica, isto é, a aceitação consciente das diretrizes e roteiros que lhes são apresentados pelos genitores, no lar, pelos educadores, na Escola, a fim de seguirem sem deixar marcas na retaguarda.


A disciplina sexual, nessa ocasião, contribui muito para equilibrar as emoções e dinamizar as experiências físicas, dando resistência para enfrentar os apelos das paixões traumatizantes que surgem com frequência no curso da vida.


A paixão, na adolescência, quando cultivada no silêncio da timidez, transforma-se em verdugo caprichoso que dilacera por dentro, conduzindo a sua vítima a estados patológicos muito graves, de onde podem nascer manifestações psicóticas portadoras de tendências criminosas e perversas.


Realizar a catarse das paixões, comunicando-se com todos e vivendo fraternalmente, em clima de legítima amizade, abre campo para as manifestações da afetividade sadia, que se converte em amor, à medida que transcorre o tempo e a pessoa adquire compreensão e discernimento a respeito dos objetivos essenciais da sua reencarnação.

Adolescente e Vida - Joanna de Ângelis, Psicografado por Divaldo Franco

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