4. Há no homem um princípio inteligente a que se
chama ALMA ou ESPÍRITO, independente
da matéria, e que lhe dá o senso moral e a faculdade de pensar.
Se o pensamento fosse propriedade da matéria
teríamos a matéria bruta a pensar. Ora, como ninguém nunca viu a matéria inerte
dotada de faculdades intelectuais; como, quando o corpo morre, não mais pensa,
forçoso é se conclua que a alma independe da matéria e que os órgãos não passam
de instrumentos com que o homem manifesta seu pensamento.
5. As doutrinas materialistas são incompatíveis
com a moral e subversivas da ordem social.
Se, conforme pretendem os materialistas, o
pensamento fosse segregado pelo cérebro, como a bílis o é pelo fígado, seguir-se-ia
que, morto o corpo, a inteligência do homem e todas as suas qualidades morais recairiam no
nada; que os nossos parentes, os amigos e todos quantos houvessem tido a nossa
afeição estariam irremissivelmente perdidos; que o homem de gênio careceria de
mérito, pois que somente ao acaso da sua organização seria devedor das
faculdades transcendentes que revela; que entre o imbecil e o sábio apenas
haveria a diferença de mais ou menos substância cerebral.
As consequências dessa doutrina seriam que, nada
podendo esperar para depois desta vida, nenhum interesse teria o homem em fazer
o bem; que muito natural seria procurasse ele a maior soma possível de gozos,
mesmo à custa dos outros; que o sentimento mais racional seria o egoísmo; que
aquele que fosse persistentemente desgraçado na Terra, nada de melhor teria a
fazer, do que se matar, porquanto, destinado a mergulhar no nada, isso não lhe seria
nem pior, nem melhor, ao passo que de tal forma
abreviaria seus sofrimentos.
A doutrina materialista é, pois, a sanção do
egoísmo, origem de todos os vícios; a negação da caridade — origem de todas as
virtudes e base da ordem social — e seria ainda, a justificação do suicídio.
6. O Espiritismo prova a existência da alma.
Provam a existência da alma os atos inteligentes
do homem, por isso que eles hão de ter uma causa inteligente e não uma causa
inerte. Que ela independe da matéria está demonstrado de modo patente pelos
fenômenos espíritas que a mostram agindo por si mesma e o está, sobretudo, pelo
seu insulamento durante a vida, o que lhe permite manifestar-se, pensar e agir
sem o corpo.
Pode-se dizer que, se a química separou os
elementos da água; se, dessa maneira, pôs a descoberto as propriedades desses
elementos e se pode, à sua vontade, fazer e desfazer um corpo composto, o
Espiritismo, igualmente, pode isolar os dois elementos constitutivos do homem: o Espírito e a matéria, a alma e o corpo, separá-los e reuni-los à vontade, o que não
deixa dúvida sobre a independência de uma e outro.
7. A alma do homem sobrevive ao corpo e conserva a
sua individualidade após a morte deste.
Se a alma não sobrevivesse ao corpo, o homem só
teria por perspectiva o nada, do mesmo modo que se a faculdade de pensar fosse
produto da matéria. Se não conservasse a sua individualidade, isto é, se se
dissolvesse no reservatório comum chamado o grande todo,
como as gotas d’água no Oceano, seria igualmente, para o homem, o nada do pensamento
e as consequências seriam absolutamente as mesmas que se não houvesse alma.
A sobrevivência desta à morte do corpo está
provada de maneira irrecusável e até certo ponto palpável, pelas comunicações
espíritas. Sua individualidade é demonstrada pelo caráter e pelas qualidades
peculiares a cada um. Essas qualidades, que distinguem umas das outras as
almas, lhes constituem a personalidade. Se as almas se confundissem num todo
comum, uniformes seriam as suas qualidades.
Além dessas provas inteligentes, há também a
prova material das manifestações visuais, ou aparições, tão frequentes e
autênticas, que não é lícito pô-las em dúvida.
8. A alma do homem é ditosa ou desgraçada depois
da morte, conforme haja feito o bem ou o mal durante a vida.
Em se admitindo um Deus soberanamente justo, não
se pode admitir que as almas tenham todas a mesma sorte. Se a posição futura do
criminoso houvesse de ser a mesma que a do homem virtuoso, excluída estaria
toda a utilidade da prática do bem. Ora, supor que Deus não faz diferença entre
o que pratica o bem e o que pratica o mal fora negar-lhe a justiça. Nem sempre
recebendo punição o mal e recompensa o bem, durante a vida terrenal, deve-se
concluir daí que a justiça será feita depois, sem o que Deus não seria justo.
As penas e os gozos futuros estão, ao demais,
provados pelas comunicações que os homens podem estabelecer com as almas dos
que aqui viveram e que vêm descrever o estado em que se encontram, ditoso ou
infeliz, a natureza de suas alegrias ou de seus sofrimentos e enumerar-lhes as
causas.
9. Deus, alma, sobrevivência e individualidade da
alma após a morte do corpo, penas e recompensas futuras constituem os
princípios fundamentais de todas as religiões.
O Espiritismo junta às provas morais desses
princípios as provas materiais dos fatos e da experimentação e corta cerce os
sofismas do materialismo. Em presença dos fatos, cessa toda razão de ser da
incredulidade. É assim que o Espiritismo restitui a fé aos que a tenham perdido
e dissipa as dúvidas dos incrédulos.
Obras Póstumas – Primeira Parte: Profissão de Fé
Espírita Cap. II – A Alma