(Envio do Sr. Ky..., correspondente da Sociedade em Carlsruhe.)
O homem vão, de si mesmo e de sua própria inteligência, é tão
desprezível quanto lamentável. Ele expulsa a verdade de diante de si, para
substituí-la por seus argumentos e suas convicções pessoais, que crê infalíveis
e irrevogáveis, porque lhe pertencem. O homem vão é sempre egoísta, e o egoísmo
é o flagelo da Humanidade; mas desprezando o resto do mundo, ele não mostra
senão muito a sua pequenez; repelindo as verdades que para ele são novas,
mostra também o espaço limitado de sua própria inteligência pervertida pela sua
obstinação, que aumenta ainda a sua vaidade e o seu egoísmo.
Infeliz do homem que se deixa dominar por esses dois inimigos de
si mesmo! Quando este despertar neste estado onde a verdade e a luz
fundir-se-ão sobre ele de todas as partes, então não verá em si senão um ser
miserável que está loucamente exaltado acima da Humanidade, durante a sua vida
terrestre, e que estará bem abaixo de certos seres mais modestos e mais simples
aos quais pensava se impor neste mundo.
Sede humildes de coração, vós a quem Deus fez parte de seus dons
espirituais. Não atribuais nenhum mérito a vós mesmos, não mais do que se
atribui a obra, não às ferramentas, mas ao obreiro. Lembrai-vos bem que não
sois senão os instrumentos dos quais Deus se serve para manifestarão mundo o
seu Espírito todo-poderoso, e que não tendes nenhum motivo para vos glorificar
por vós mesmos. Há tantos médiuns, ah! que se tomam vãos, em lugar de se
tornarem humildes à medida que os seus dons crescem. Isto é um atraso no
progresso, porque em lugar de ser humilde e passivo, o médium, frequentemente,
pela sua vaidade e pelo seu orgulho, repele comunicações importantes que vêm
então à luz por pessoas mais merecedoras. Deus não olha a posição material de
uma pessoa para lhe comunicar o seu espírito de santidade; bem longe disso,
porque, frequentemente, ele eleva os humildes entre os humildes, para dotá-los
de maiores faculdades, a fim de que o mundo veja bem que não é o homem, mas o
Espírito de Deus pelo homem, que faz milagres. O médium é, como eu o disse, o
simples instrumento do grande Criador de todas as coisas, e é a este último que
é necessário render glória, é a ele que é necessário agradecer pela sua
inesgotável bondade.
Eu gostaria de dizer também uma palavra sobre a inveja e o ciúme
que, muito frequentemente, reina entre os médiuns, e que, como a erva má, é
necessário arrancar desde que ela comece a aparecer, de medo que ela não abafe
os bons germes vizinhos.
No médium o ciúme é tanto a temer como o orgulho; ele prova a
mesma necessidade de humildade; direi mesmo que ele denota uma falta de senso
comum. Não será vos mostrando ciumentos dos dons do vosso vizinho que os
recebereis semelhantes, porque se Deus dá muito a uns e pouco aos outros,
estejais certos de que agindo assim ele tem um motivo bem fundado! O ciúme
azeda o coração; abafa mesmo os melhores sentimentos; é, pois, um inimigo que
não se saberia evitar com muito cuidado, porque não deixa nenhum descanso, uma
vez que se apodera de nós; isto se aplica a todos os casos da vida neste mundo;
mas eu quis sobretudo falar do ciúme entre médiuns, tão ridículo quanto
desprezível e mal fundado, e que prova o quanto o homem é fraco e o quanto se torna
escravo de suas paixões.
LUOS.
Nota. Quando da leitura desta última comunicação diante da
Sociedade, uma discussão se estabeleceu sobre o ciúme dos médiuns comparado ao
dos sonâmbulos. Um dos membros, o Sr. D..., disse que na sua opinião o ciúme é o
mesmo nos dois casos, e que se parece tão frequente nos sonâmbulos, é que,
nesse estado, eles, não sabem dissimulá-lo.
O Sr. Allan Kardec refutou esta opinião: "O ciúme, disse ele,
parece inerente ao estado sonambúlico, e isso por uma causa da qual é difícil
dar-se conta, e que os próprios sonâmbulos não podem explicar. Este sentimento
existe entre sonâmbulos que, no estado de vigília, não têm um pelo outro senão
da benevolência. Entre os médiuns, é longe de ser habitual, e se prende
evidentemente à natureza moral do indivíduo. Um médium não é ciumento de um
outro médium, senão porque está em sua natureza ser ciumento; essa falta, consequente
do orgulho e do egoísmo, é essencialmente nociva à bondade das comunicações, ao
passo que o sonâmbulo mais ciumento pode ser muito lúcido, e isto se concebe
facilmente. O sonâmbulo vê por si mesmo; é o seu próprio Espírito que se
liberta e age: ele não tem necessidade de ninguém; o médium, ao contrário, não
é senão um intermediário: ele recebe tudo de Espíritos estranhos, e a sua
personalidade está bem menos em jogo do que no sonâmbulo. Os Espíritos
simpatizam com ele em razão de suas qualidades ou de seus defeitos: ora, os
defeitos que são os mais antipáticos aos bons Espíritos são o orgulho, o
egoísmo e o ciúme. A experiência nos ensina que a faculdade mediúnica, enquanto
faculdade, é independente das qualidades morais; ela pode, do mesmo modo que a
faculdade sonambúlica, existir no mais alto grau nos homens mais perversos. É
completamente diferente com respeito às simpatias dos bons Espíritos, que se
comunicam naturalmente tanto mais de boa vontade, quanto o intermediário
encarregado de transmitir o seu pensamento seja mais puro, mais sincero, e se
afaste mais da natureza dos maus Espíritos; eles fazem a esse respeito o que
fazemos nós mesmos quando tomamos alguém por confidente. No que concerne
especialmente ao ciúme, como esse defeito existe entre quase todos os
sonâmbulos, e que é muito raro entre os médiuns, parece que nos primeiros é a
regra, e nos segundos a exceção, de onde se seguiria que não deve haver a mesma
causa nos dois casos."
Revista Espírita, Abril de 1861